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Estresse térmico em bovinos: controle e resposta em produtividade




Estresse térmico em bovinos - controle e resposta em produtividadeCréditos da imagem: Portal do Agronegócio

Estamos nos deparando cada vez mais com textos e artigos relatando experiência e estudos sobre estresse por calor em bovinos, mais conhecido como estresse térmico. Isto acontece pois assim como a “qualidade do leite”, o “estresse térmico”, ou melhor, o “bem estar animal”, são setores da bovinocultura de leite em alta e que têm gerado grande número de empregos para técnicos, além de altos investimentos que visam alcançar melhores resultados em produtividade.

Fatores influenciadores do estresse térmico

 

Primeiro é necessário compreendermos que vários fatores afetam na ocorrência do estresse térmico. Dentre esses fatores podemos citar:

  • as condições climáticas (temperatura, umidade do ar, radiação solar e velocidade do vento);
  • o grau sanguíneo dos animais;
  • alimentação;
  • instalações.

 

O estresse térmico é causado pelo excesso de calor que não consegue ser dissipado ao ambiente e se acumula no corpo do animal. Esta situação, que prejudica o desempenho do animal é demonstrada pelo aumento da frequência respiratória que ultrapassa 60 movimentos respiratórios por minuto e temperatura retal acima de 39°C.

Impactos

 

O olhar enfatizado sobre o tema se dá pelas consequências negativas que observamos em animais sobre o estresse térmico, como:

  • redução do consumo de matéria seca de 6 a 30%;
  • redução na produção de leite de 15 a 20%;
  • queda na eficiência reprodutiva de 40 a 50%;
  • alteração na composição do leite;
  • respostas imunológicas negativas entre mastite, aborto, retenção de placenta, cetose, entre outros.

 

Pierre et al em 2003, pontua os danos econômicos causados pelo estresse térmico que chegam a representar 900 milhões de dólares por ano no Estados Unidos. Quando falamos a nível da realidade brasileira, não se tem números exatos dos prejuízos causados pelo estresse térmico, sabendo que este número com certeza excede ao dos Estados Unidos visto, a predominância de nosso clima e sistemas de criação.

Como controlar o estresse térmico?

 

Entre janeiro e fevereiro de 2020, visitei 114 propriedades de Leite no Oeste do Paraná com grande prevalência da raça holandesa nos rebanhos, que fornecem leite para unidade de captação da Lider Alimentos em Maripá. Fazendo um diagnóstico das propriedades, nos deparamos com apenas 20% dessas com algum tipo de tentativa de controle do estresse térmico, sendo através do confinamento do rebanho ou umedecimento e ventiladores na sala de espera, cama e linha de cocho.

Sabemos que optar por diferentes estratégias de controle pode minimizar os efeitos negativos já citados e alcançar resultados em maior produção de leite e constância durante as estações do ano, melhorando desta forma os índices reprodutivos e sanitários.

Estratégias nutricionais

 

A digestão em ruminantes é caracterizada por gerar calor (incremento calórico) para o animal no momento da fermentação da digesta no rúmen. Estratégias nutricionais como fornecer alimentos que geram menos calor (baixa fibra) na sua digestão é uma saída. No entanto, fibra é essencial para manutenção de um rúmen saudável e isso é especialmente importante durante o estresse térmico. Vacas em estresse térmico são mais susceptíveis à acidose ruminal e muitos dos problemas normalmente detectados no verão, como laminite e baixo teor de gordura no leite, podem ser consequência do baixo pH do rúmen durante esse período. Também são utilizados alguns ingredientes e aditivos que podemos citar.

A utilização de gordura na dieta de vacas de leite, alimento quando incluído dentro dos seus limites gera 2,25 vezes mais energia que carboidrato. Van Soest (1982) cita que é a fonte de energia que gera menor incremento calórico se comparados com outras fontes energéticas (amido e fibra).

A utilização de monensina aponta resultados positivos no estresse térmico, pois maximiza a produção de propionato no rúmen que é o principal precursor de glicose para a vaca, e ajuda na estabilidade do pH ruminal pela menor produção de lactato, com isso favorecendo melhor saúde do rúmen e produção de glicose pelo fígado.

Deve-se atentar com teores de potássio (K) nas dietas, pois há uma grande secreção de K na sudorese podendo ser deficiente nas vacas na época do verão. Juntamente com K também deve-se ajustar Sódio e Magnésio por competirem por sítios ativos na absorção intestinal.

Climatização do ambiente

 

Quando se trata de climatização do ambiente temos ótimos resultados quando utilizamos umedecimento e ventiladores, podendo ser de acordo com a necessidade influenciada pela temperatura, umidade do ar e ventilação natural do local.

A vaca troca calor por radiação, convecção e condução. Sendo a mais eficiente por convecção, que é o método utilizado no sistema de resfriamento direto. Temos como objetivo molhar os animais e submetê-los a ventilação com velocidade de 3 metros/segundo, fazendo que o animal perca temperatura para o ar quando a água em contato com seu corpo evapora. Pode, portanto, ter aspersores na linha de cocho e sala de espera e também ventiladores na linha de cocho, sala de espera e nas camas.

É preciso sempre deixar claro que é possível resfriar o rebanho no sistema de criação a pasto na sala de espera, assim como é muito eficiente para rebanhos confinados o tratamento de 3 a 5 vezes por dia na mesma, fazendo com que o animal passe a maior parte do dia com temperatura retal abaixo de 39°C. As vacas são submetidas a ciclos de 30 a 45 minutos de aspersores (40 segundos ligados e 5 minutos desligados), com baixa pressão e alta vazão e com ventiladores ligados direto.

Flamenbaum, em um se seus textos na plataforma digital MilkPoint, cita St. Pierre, constatando que com as técnicas de resfriamento ocorre a redução do estresse térmico e consequentemente diminui até 40% nas perdas de produção durante o verão. Número levantado em estudos em diversas regiões dos Estados Unidos.

Os mecanismos de resfriamento de galpão totalmente climatizado, sistemas conhecidos como “cross ventilation” e “túnel de vento” são importantes. Funcionam através de placas evaporativas e um sistema de ventilação por pressão negativa que condicionam a temperatura do ambiente em torno de 15°C.

Neste mesmo texto, o pesquisador afirma e demonstra resultados em produtividade, saúde e economia de alguns projetos em diversos locais do mundo, mostrando a necessidade de que independente do lugar, para se alcançar boa produtividade em rebanhos leiteiros de alta produção se deve estudar a implantação dos sistemas de resfriamento. Tendo aumentos médios na produção de 8 a 12% com aumento do lucro líquido anual por animal entre R$960,00 a R$1.440,00 e retorno do investimento entre 1 a 2 anos.

Por fim, fica claro que o assunto não é apenas “do momento”, mas uma realidade que afeta a todos produtores de leite a nível internacional. Quando falamos no Brasil, um país tropical, o tema “resfriamento de vacas leiteiras” tem que despontar em prioridades de investimentos e manejo, por consequência poderemos discutir sobre eficiência alimentar, reprodutiva, na saúde e produtividade em vacas de alta produção.

 

 

O resfriamento de vacas pode evitar prejuízos relacionados ao estresse térmico. No Clube Leiteiro você tem acesso a esse e outros assuntos de grande relevância para pecuária leiteira:

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Evandro Christian Miranda de Freitas

Evandro Christian Miranda de Freitas

Graduando em Zootecnia, é aluno do UFLALEITE, núcleo de estudos da UFLA formado por alunos de Zootecnia, Medicina Veterinária, Agronomia e Engenharia Agrícola, sob coordenação da Prof. Marina Danes. O UFLALEITE tem o objetivo de difundir conhecimento e tecnologia a pequenos produtores de leite, e a complementação do treinamento dos alunos na formação profissional. Para saber mais, visite o perfil do Instagram @uflaleite.