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Manejo fitoterápico no controle de carrapatos




Manejo fitoterápico no controle de carrapatos* Texto adaptado do trabalho de conclusão de curso “Eficiência de fitoterápicos associados à carrapaticidas sobre o controle do carrapato rhipicephalus microplus”, de Rebeca Mendes Vieira da Costa, formanda do Curso de Agropecuária da Academia do Leite, sob orientação do professor: Michel Euan dos Santos Nogueira.

A infestação pelos parasitas da família Ixodidae em rebanhos bovinos, é um dos maiores empecilhos na pecuária leiteira, causando uma perda anual de 2 bilhões de dólares.

A principal forma de controle dos carrapatos é o uso de carrapaticidas químicos, muitas vezes esses produtos são utilizados sem orientação técnica, afetando a sanidade dos animais e também a saúde humana. O manejo incorreto do produto pode ocasionar criação de resistência pelos animais aos carrapaticidas, tornando o medicamento ineficaz. O manejo fitoterápico surge neste contexto como alternativa de controlar essas infestações.

A fitoterapia tem como base o uso de extratos de plantas medicinais, podendo assim reduzir impactos ambientais e econômicos associados ao uso de pesticidas encontrados no mercado atual.

Benefícios do manejo fitoterápico

 

O uso das plantas medicinais tem como vantagens o aproveitamento da biodiversidade brasileira, o baixo custo e a menor contaminação ambiental, como já citado acima. Também proporcionam a produção de alimentos “limpos” (sem resíduos de medicamentos), o uso de insumos locais e o menor risco de efeitos colaterais, já que os princípios ativos estão em menores concentrações e pode ser implantado como uma ferramenta de um bom manejo dentro de uma produção animal agroecológica (RICHTER, 2010).

Carrapato Boi (Rhipicephalus microplus)

 

É um ectoparasita hematófago originário da Ásia, popularmente conhecido como carrapato do boi, por seu principal hospedeiro ser o bovino. Foi disseminados para os outros países através das importações de gado e se adaptou facilmente ao Brasil devido ao clima tropical.

Ciclo de vida do Carrapato

 

O ciclo se divide em fase parasitária e não parasitária. A fase parasitária começa no período de larva infestante, a qual infesta o bovino e leva aproximadamente 21 dias até completar seu ciclo chegando à fase adulta, dita teleógina, ao cair ao solo e inicia-se a fase não parasitária, na qual a fêmea leva em média 3 dias para iniciar a postura, os ovos ficam na pastagem aproximadamente 150 dias e eclodem, e permanecem na pastagem até 240 dias, até se reiniciar o ciclo.

Ciclo do carrapatoRepresentação do ciclo de vida - Fonte: Pizza, 2001.

Métodos de controle:

 

Existem diversos métodos para controlar as infestações:

•    Carrapaticida no bovino;

      –   Medicamentos sistêmicos: aqueles que caem na corrente sanguínea do bovino e atingem o sistema nervoso do carrapato.

     –   Medicamentos de contato: que matam o carrapato por asfixia.

•    Carrapaticida na pastagem: são utilizados por apenas 1% dos produtores pela alta possibilidade de intoxicação,

•    Rotação e adubação;

•    Homeopáticos: uma outra alternativa, porém com um custo mais elevado.

•    Fitoterápicos: alternativa natural e com o menor custo.

Um dos principais motivos pelo qual o uso de plantas tem sido cada vez mais aprimorado é que os carrapatos demoram um longo período para desenvolver resistência por estas substâncias (BORGES et al., 2011).

Plantas fitoterápicas

 

Araucaria angustifólia: uma planta nativa brasileira ameaçada de extinção. É possível encontrar em na região Sul e no Sudeste, especialmente na Serra da Mantiqueira e região serrana do Rio de Janeiro. O uso medicinal contra carrapatos já é recorrente em algumas comunidades, onde produtores rurais utilizam a grimpa do pinheiro no controle dos parasitas em bovinos de leite (ARCEGO, 2005).

Cymbopogon nardus: popularmente conhecido como citronela é facilmente confundido com o capim cidreira. É originária da indonésia, é usado como repelente por conter substâncias voláteis como o citronelal, geramiol e o limoneno. O carrapaticida convencional c. plus já contém em sua composição a citronela sintética, regulamentada pela Anvisa.

Estudo de caso

 

O objetivo da pesquisa foi comparar a eficiência dos extratos fitoterápicos da Araucaria angustifolia e Cymbopogon nardus em associados com carrapaticidas no controle de fêmeas parcialmente ingurgitadas de Rhipicephalus microplus.

Metodologia

 

Foram utilizados carrapatos R. microplus provenientes de uma propriedade localizada no município de Piquete – SP, esta conta com um rebanho de 44 vacas lactantes com produção diária de 850 litros, uma área de 20 hectares.

Após a coleta da população de 200 carrapatos foi enviado para a Embrapa Gado de Leite em Juiz de Fora – MG, onde foi feito um teste de sensibilidade para saber-se qual carrapaticida de maior eficácia para tal propriedade.

Ensaio Biológico

 

Com o resultado da Embrapa Gado de Leite, foi iniciado um ensaio biológico em que foram coletadas aproximadamente 100 fêmeas parcialmente ingurgitadas e dividas em dez grupos, a partir das combinações químicas e fitoterápicas, como na Tabela abaixo. A dosagem da Araucaria a. e do Cymbopogon n. foram de 30% cada, sendo utilizados 30% da composição álcool 70% e o restante agua, encobrindo 100% da planta e armazenados durante 14 dias. Cada grupo conteve oito fêmeas parcialmente ingurgitadas, sob ambiente parcialmente controlado.

quadro 1Fonte: Autor

As fêmeas foram pesadas e imersas durante 3 minutos em cada substância supracitadas, e foram avaliadas a postura de fêmeas e a eclosão de larvas.

Placas de petriFonte: Autor.

As placas de petri foram envolvidas em panos úmidos para controle de umidade e colocadas em uma caixa iluminada para elevação da temperatura ambiental. A temperatura foi medida diariamente por um termômetro a laser da marca CE fornecido pelo NICATEC (unidade de sustentabilidade da Fundação Roge) e variou de 10° a 27°C.

ensaio biológico temperaturaFonte: Autor.

Resultados

 

O resultado de teste de sensibilidade de carrapatos e carrapaticidas, mostrou 100% de eficiência o carrapaticida colosso fc30, cyperclor plus, flytion sp e ciclorfos, e de menor eficiência o butox com 7,9%.

resultado embrapa gado de leiteFonte: Autor.

 O primeiro resultado do ensaio biológico foi da postura de ovos, 97% das fêmeas realizaram, e segundo a literatura elas iniciaram ao 3 dia de queda, porém neste experimento elas iniciaram ao 7, podendo ter influenciado o ambiente, o qual não afetou na postura em si, e as fêmeas terem sido coletadas ainda próximas ao seu período de ingurgitamento máximo.

grupo 7Fonte: Autor.

As larvas eclodiram após 70 dias do início de postura, e 9 dos 10 grupos eclodiram, exceto o grupo do carrapaticida butox, o maior percentual de eclosão foi do grupo controle e do grupo da junção dos dois extratos fitoterápicos.

resultados butoxFonte: Autor.

A pesquisa mostrou que a união de carrapaticidas com o extrato fitoterápico do cymbopogon nardus obteve um resultado satisfatório, porém sendo o butox que obteve melhor resultado, sugerindo-se a ação acaricida do cymbopogon nardus, e nas condições de ambiente oferecidas no experimento notou-se interferência do ambiente no resultado, este trabalho sugere novos experimentos em ambiente controlado para evitar tais interferências.

 

Para aqueles produtores que ainda assim preferem o uso de carrapaticidas e medicamentos, temos algumas dicas de como fazer:

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Fundação Roge

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