O período de transição de uma vaca compreende os 21 dias que antecedem e os 21 dias que sucedem o parto. Esse período é comprovadamente um dos mais críticos na vida produtiva do animal, pois é quando ocorre uma alta incidência de doenças e de descartes. Sabemos que o manejo durante esse período repercute em toda a lactação subsequente dessa vaca, isto é, se o animal terá uma boa produção leiteira, se emprenhará no tempo certo e se será saudável durante sua lactação.
Isto acontece porque durante essa fase o animal passa por bruscas alterações metabólicas, imunológicas e fisiológicas que vão prepará-lo para o futuro parto e lactação, tornando mais difícil a manutenção da homeostase (processo de regulação que mantém o organismo em constante equilíbrio). Todas as alterações ocorridas irão culminar em um ponto chave: redução na ingestão de matéria seca.
O final da gestação de uma vaca é marcado por um grande aumento no crescimento fetal, fazendo com que a pressão interna nos órgãos digestivos aumente. Este fato associado à grande variação hormonal que desencadeia o parto (aumento nas concentrações sanguíneas de estrógeno e corticóides e uma queda nas concentrações de progesterona), levam a diminuição da ingestão de matéria seca em até 30% (figura 1), predispondo o animal a um balanço energético negativo no pós-parto, o qual também tem grande importância nesse cenário.
O balanço energético negativo em decorrência da menor ingestão de matéria seca e do súbito aumento na exigência energética por causa da produção de leite, leva o animal a mobilizar gordura corpórea para atendimento de suas demandas. Esse fato desencadeia mudanças metabólicas que podem levar o animal a desenvolver a síndrome do fígado gorduroso associado à cetose, enfermidades as quais alteram o metabolismo normal de gordura e levam, dentre outros problemas, à diminuição da produção leiteira (a diminuição da produção leiteira no início da lactação significa um pico de produção menor, sendo que a cada 1 litro a menos que o animal deixa de produzir durante o pico totalizam de 240 a 300 litros na lactação total).
Diante disso se torna clara a importância de intensificar os esforços visando diminuir a intensidade dessa queda de consumo e consequentemente diminuir o balanço energético negativo. É possível conseguir isso de várias maneiras, sendo uma delas o aumento da densidade da dieta do período de transição, que além de promover um aporte maior de energia ao animal (diminuindo então a mobilização de gordura), irá preparar as papilas ruminais para a dieta que o animal irá receber durante toda a lactação (dieta com maiores taxas de amido).
Devemos sempre lembrar que o metabolismo animal funciona de maneira conjunta, isto é, as enfermidades que ocorrem em um sistema (ex.: sistema reprodutivo, sistema digestivo etc.) sempre terão influência nos demais, sendo essa influência de maior ou menor grau. Portanto, prezar pela prevenção de uma doença é prezar também pela saúde geral do animal.
É importante destacar que os esforços para manter o animal saudável durante o período de transição podem nem sempre ser suficientes, sendo indispensável nesse momento o diagnóstico e tratamento rápido das enfermidades para que os danos sejam os menores possíveis, evitando problemas maiores e descartes futuros.
Além dos pontos levantados, outros de grande importância devem ser levados em conta quando o assunto é vaca em transição, como por exemplo:
Em resumo: um animal saudável durante o período de transição significa um animal saudável durante a sua lactação subsequente e, mais que isso, significa um animal produtivo que nos dará maiores lucros e menores gastos com tratamentos de doenças, veterinários e prejuízos com descartes involuntários. Um bom manejo e a observação constante dos animais nessa fase é o ponto chave para que tenhamos animais longevos no rebanho, os quais nos darão mais lucros ao longo de sua vida produtiva.
Prevenir as enfermidades no rebanho durante o período de transição é fundamental para evitar maiores danos. Conheça 5 doenças comuns nesta fase:
Graduanda em Medicina Veterinária, é aluna do UFLALEITE, núcleo de estudos da UFLA formado por alunos de Zootecnia, Medicina Veterinária, Agronomia e Engenharia Agrícola, sob coordenação da Prof. Marina Danes. O UFLALEITE tem o objetivo de difundir conhecimento e tecnologia a pequenos produtores de leite, e a complementação do treinamento dos alunos na formação profissional. Para saber mais, visite o perfil do Instagram @uflaleite.
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