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Dieta aniônica no pré-parto: usar ou não usar?




Dieta aniônica no pré-parto: usar ou não usar?

Texto baseado no curso O período de transição em vacas leiteiras no Clube Leiteiro, conduzido pela zootecnista Lisia Bertonha Corrêa.

 

A dieta aniônica é uma estratégia nutricional muito importante no pré-parto de vacas leiteiras, com efeito muito positivo sobre a produção e a saúde desses animais, com efeito prolongado durante a fase de lactação.

Mas como fazer essa dieta e quais os seus impactos?

 

O que é o balanço cátion-aniônico da dieta?

 

Esse balanço diz respeito à diferença entre cátions e ânions presentes na dieta. Dietas com uma maior proporção de cátions são chamadas de dietas catiônicas, ou positivas, e provocam uma alcalose metabólica. Ao contrário disso, uma dieta com maior proporção de ânions é chamada de aniônica, ou negativa, e provocam uma acidose metabólica. E é possível manipular as dietas para que sejam catiônicas ou aniônicas.

Esse balanço exerce vários efeitos sobre o metabolismo animal, sendo que a sua principal função é atuar no equilíbrio ácido-base. Essa relação pode levar a diferenças significativas na redução de distúrbios metabólicos e na melhora do desempenho animal.

 

Qual dieta, em qual fase?

 

Com o progresso da lactação, o pH e a concentração de bicarbonato no sangue vão aumentando, o que sugere que:

  • Vacas no final da lactação são mais suscetíveis à alcalose.
  • Vacas no início da lactação são mais suscetíveis à acidose, já que produzem mais ácidos porque comem mais grãos na dieta.

 

Assim, o BCAD deve ser alto no início da lactação e diminuir no decorrer da lactação, tornando-se negativo 3 a 4 semanas antes do parto. Isso significa que as vacas em fase final de lactação devem comer dietas aniônicas, que ajudam na prevenção da hipocalcemia. E no início da lactação, deve-se fornecer dietas catiônicas que ajudam a melhorar o consumo e a aumentar a produção de leite.

 

 

Relação dieta aniônica x metabolismo de cálcio

 

O uso da dieta aniônica no pré-parto vai induzir a vaca a ter uma acidose metabólica que vai facilitar a reabsorção óssea e a absorção intestinal de cálcio. Ou seja, as dietas aniônicas baixam o pH e estimulam mecanismos que ajudam a manter o nível de cálcio mais alto.

 

Como monitorar o BCAD?

 

Isso é feito através do acompanhamento do pH da urina das vacas, um indicador muito útil de carga ácida ou alcalina eliminada.

Em geral, o pH da urina de ruminantes varia de 7,4 a 8,4. Quando se utiliza dietas aniônicas, valores entre 6,0 e 7,0 (para a raça holandesa) já indicam eficiência na acidificação da dieta. Mas o ideal é que o pH fique entre 5,5 e 6,5 para se obter melhores resultados.

O gráfico abaixo mostra claramente o pH urinário de vacas com dieta aniônica, apresentando um nível baixo antes do parto (0 - zero no gráfico) e voltando a subir após o parto, sem a dieta aniônica:

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Tempo de uso e de resposta

 

O tempo de uso de uma dieta aniônica varia de 3 a 4 semanas antes do parto (aproximadamente 21 dias), fornecido ao lote de vacas no pré-parto.

A resposta dos animais à adição de sais aniônicos nas dietas do pré-parto é rapidamente observada. Geralmente, em 48h após o início da dieta, o pH sanguíneo já se encontra levemente acidificado. Mas acredita-se que seja necessário de 5 a 7 dias para que o efeito da redução do pH se manifeste nos mecanismos de homeostase do cálcio.

 

Resultados da dieta aniônica

 

O uso da dieta aniônica (baixo BCAD) resulta nos seguintes benefícios:

1. Maior status de cálcio no sangue;
2. Maior produção de leite nas 3 primeiras semanas após o parto;
3. Maior ingestão de matéria seca;
4. Redução de prevalência de hipocalcemia ou outros distúrbios metabólicos;
5. Redução dos gastos com medicamentos;
6. Melhoria dos ciclos produtivos e reprodutivos já que os animais ficam mais saudáveis.

 
 

Usar ou não usar a dieta aniônica?

 

Antes da utilização das dietas aniônicas, algumas perguntas devem ser respondidas:

1. A dieta do pós-parto está balanceada corretamente?

Não vai adiantar fazer tudo de forma correta no pré-parto se não vai haver uma sequência de um bom manejo no pós-parto para manter os animais com menor risco de doenças e melhor desempenho.

2. As vacas estão ingerindo a quantidade certa de dieta?

O lote de pré-parto tem uma entrada e saída constante de animais. Portanto, a quantidade de dieta fornecida tem que ser ajustada diariamente, em função do número de animais no lote.

3. Tem água de qualidade e abundante para os animais?

A água é de vital importância para ajudar a melhorar o consumo e deve ser de boa qualidade para não interferir na eficácia da dieta aniônica.

4. A separação de lotes está correta?

É importante ter o lote de vacas secas e o lote de vacas no pré-parto, para usar a dieta aniônica somente no lote de pré-parto mesmo, no período de aproximadamente 21 dias antes do parto.

5. Há monitoramento do pré-parto?

Não adianta fornecer uma dieta aniônica se não houver um monitoramento de consumo e de pH urinário para verificar a eficácia dessa dieta, e também um monitoramento de doenças.

 

Quanto custa uma dieta aniônica?

 

  • Sendo o consumo de 300g por animal, por dia;
  • Sendo o preço do sal aniônico R$7,50 o quilo (valor em 2022).

 

O custo será de R$2,25 por vaca, por dia. Em 21 dias aproximados de fornecimento da dieta, o custo total da suplementação no ano é de R$2,25 x 21 = R$47,25 por vaca. É um ótimo custo benefício!

 

O que pode atrapalhar a dieta aniônica?

 

  • Oscilações na qualidade de mistura dos ingredientes;
  • Nível de potássio alto que anula o efeito da dieta (na dieta, nas forragens, nos ingredientes);
  • Água de baixa qualidade;
  • Matéria prima dos produtos aniônicos de baixa qualidade. 
  • Baixo consumo de matéria seca;
  • Resíduos de dieta de lactação (que são positivas) no vagão;
  • Proporção entre novilhas e vacas e sua relação com a dose do produto aniônico.

 

O uso de dietas aniônicas no pré-parto é uma ferramenta nutricional muito eficaz, mas somente a manipulação do BCAD não é suficiente! A dieta precisa estar bem balanceada (principalmente com relação a vitaminas minerais), deve-se verificar a quantidade ingerida, se não falta água de qualidade, se não há consumo de volumoso com alto teor de potássio e se há conforto para os animais. 

 

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Fundação Roge

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