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6 práticas sanitárias empregando o manejo racional de bovinos




6 práticas sanitárias empregando o manejo racional de bovinosPara a criação de bovinos leiteiros, há a necessidade da realização de várias práticas rotineiras. Essas práticas estão relacionadas diretamente com a produção (ordenha e aleitamento), práticas zootécnicas (identificação zootécnica, descorna, avaliação do escore corporal, acompanhamento de parto) ou práticas sanitárias (aplicação de medicamentos e/ou pesticidas). 

É muito comum presenciarmos todas essas atividades sendo realizadas com o manejo tradicional, indo, muitas vezes, contra legislações brasileiras já difundidas. Há ainda, aquelas práticas com manejo tradicional que não temos  legislações, mas que não são mais recomendadas, pois não se atentam para a senciência do animal ou, até mesmo, para as questões sanitárias na obtenção do produto final. 

Se quisermos produtos de origem animal de qualidade e animais criados e mantidos tendo suas necessidades atendidas, o manejo racional é o recomendado.

Por que o manejo racional é importante?

 

O manejo racional é realizado considerando a biologia da espécie criada, seus processos de aprendizagem e suas necessidades, ou seja, com a realização da ação com o conhecimento técnico adequado. Ao empregarmos o manejo racional, possibilitamos aos animais níveis de bem-estar adequados, de maneira que o animal viva melhor no ambiente em que está inserido, reduzindo alterações fisiológicas e comportamentais. O profissional também ganhará, pois terá mais eficiência e menos esforço ao realizar as atividades.

Práticas sanitárias com o manejo racional de bovinos

 

Nas práticas sanitárias adequadas ao manejo racional, visando à produtividade, à rentabilidade e ao bem-estar animal, apresentamos as ações abaixo:

1) Alguns cuidados básicos:

a. Utilização de Equipamento de Proteção Individual: cada procedimento terá um EPI adequado à prática. A informação vem na própria embalagem do material. 

b. Agulhas: deverão ser esterilizadas e adequadas ao tipo de aplicação. Logo após a sua utilização, deverão ser higienizadas e esterilizadas para o próximo uso, caso não sejam descartáveis.

c. Seringas: deverão ser esterilizadas e adequadas ao tipo de aplicação. Logo após a sua utilização, deverão ser higienizadas e esterilizadas para o próximo uso, caso não sejam descartáveis.

d. Bomba costal: a bomba costal somente deverá ser utilizada para aplicação de produtos em animais. Deverá estar lavada e lubrificada para o uso. Após o uso, deverá ser realizada a lavagem e lubrificação para ser reutilizada.

e. Medicamentos/vacinas: observar a data de validade e necessidade de refrigeração. Caso sejam refrigerados, deverão ser mantidos sob refrigeração até o momento da aplicação.

f. Profissionais: verificar a necessidade de profissionais para a realização eficaz da prática a ser executada. Os profissionais devem ter conhecimento básico sobre a biologia dos bovinos (comportamentos e processos de aprendizagem - habituação e condicionamento operante com reforço positivo).

g. Materiais a serem utilizados: fazer o checklist e observar se todos estão em perfeitas condições de uso. 

h. Tapagem dos olhos dos animais: quando possível, os animais deverão ter seus olhos tapados no momento da aplicação, isto os tornará mais calmos. Para isto, usa-se um pano ou saco.

2) Deslocamento, contenção e liberação do animal: 

a. Serão deslocados dois ou mais animais de seus locais para a instalação empregando a distância de fuga, o ponto de equilíbrio e bandeiras, mantendo-se lateralmente ao último animal, na altura da anca do animal,  conduzindo-os  calmamente;

b. No curral, serão separados lotes homogêneos quanto ao peso, se for vários animais a receberem o tratamento;

c. O lote ou o animal a ser tratado e seus companheiros serão conduzidos ao brete, empregando a distância de fuga, o ponto de equilíbrio e bandeiras;

d. No brete, o ponto de equilíbrio será empregado para o deslocamento do animal para dentro do tronco, ao caminhar do início do brete até o seu final, cessando o deslocamento ao passar pelo último animal, de forma que os animais fiquem parados na posição final do deslocamento. Caso o brete tenha as laterais completamente fechadas, sem aberturas, o profissional se curvará para sair da visão do animal e retornará ao ponto de origem. Se o brete tiver abertura, o profissional deverá se deslocar para o ponto de origem realizando um semicírculo, se afastando da distância de fuga dos animais;

e. Ao animal entrar no tronco, serão fechadas a entrada, a saída e a pescoceira. As abas laterais do tronco deverão ser ajustadas ao corpo do animal. Ao finalizar a aplicação, serão abertos concomitantemente os portões de saída e entrada e a pescoceira; 

f. Com a saída do animal, será estimulada a entrada do próximo animal, por meio da distância de fuga, do ponto de equilíbrio e de seu comportamento social, repetindo a movimentação inicial de condução para o tronco;

g. Caso a propriedade use somente o brete, os animais serão mantidos no local, não devendo pessoas transitarem ao redor dos animais, dentro da distância de fuga. Caso transitem, provocarão simultaneamente movimentações dos animais dentro do brete, o chamado efeito sanfona ou vai e vem. 

h. Para a segurança do profissional e do animal, cada animal deverá ser cabresteado para a aplicação do medicamento/vacina/pesticida. 

i. Caso não possua brete, a contenção do animal se dará da seguinte forma: será laçado, cabresteado e amarrado em um pilar. Estas ações deverão ser realizadas com calma, respeitando o temperamento do animal, não o ameaçando ou o agredindo;

j. Caso o animal seja habituado a ter seus membros posteriores amarrados, esta ação deverá ser realizada, se necessária.

k. Após a prática, ao sair do tronco, o animal será recompensado com uma porção de sal mineralizado ou ração concentrada. 

 

3) Observação de animais doentes:

O profissional andará entre os animais, no ambiente em que estiverem localizados, respeitando a distância de fuga e observará:

  • os movimentos respiratórios
  • a umidade do espelho
  • a ocorrência de diarreia
  • a claudicação
  • a consistência das fezes evacuadas
  • lesões corporais visíveis

 

Caso seja detectada alguma anomalia, no mínimo, dois animais serão deslocados de seus locais para a instalação. Após a contenção, serão aplicados os procedimentos apresentados neste artigo, conforme a necessidade específica.

4) Avaliação da mobilidade ruminal: 

No mínimo, a atividade deverá ser realizada na presença de dois animais. Esses, caso não estejam na instalação, serão deslocados de seus locais para a instalação. Após a contenção, o flanco/vazio esquerdo do animal será tocado com a mão fechada, fazendo uma leve pressão. Esta posição será mantida por sessenta segundos e serão contados os movimentos ruminais neste período. Deverá apresentar de 1 a 2 movimentos por minuto. Caso não haja ruminação, deverá entrar em tratamento.

5) Aferição da temperatura retal:

O animal, a campo (bezerros lactentes) ou no curral (demais categorias) será contido. Após a contenção, com a utilização de luva própria para a inseminação artificial, após vesti-la, será lubrificada com vaselina ou outro produto similar. O dedo, para as categorias bezerro lactente e bezerro desmamado, ou a mão, para as demais categorias, será introduzida no reto do animal, respeitando suas contrações e movimentos retais, e serão realizados movimentos de retirada das fezes. Após a limpeza retal, o termômetro será introduzido pela parte de seu bulbo, encostando-o na ampola retal, por 5 minutos. Após, ser retirado o termômetro, o profissional se afastará do animal para evitar a quebra do termômetro, será realizada a leitura e a continuidade dos demais procedimentos, se for necessário.

6) Aplicação de medicamentos/vacinas/pesticidas:

a. Via subcutânea: Após a contenção, terá seu peso aferido com a fita barimétrica ou balança, se houver necessidade. A dosagem do medicamento/vacina/pesticida será ajustada na seringa dosadora automática e a agulha especificada será desde 10x10 – 10x18 (bezerros com menos de 300 kg de peso vivo) a 15x15 – 25x18 (animais acima de 300 kg de peso vivo). Será utilizada 1 (uma) agulha por animal, que poderá ser reaproveitada após a sua esterilização. A aplicação acontecerá na tábua do pescoço ou atrás da paleta, inclinando a agulha em 45º. Ao ter penetrada a agulha no corpo do animal, será realizada a gatilhada. Após a prática, será liberado e recompensado com uma porção de sal mineralizado ou ração concentrada.

b. Via intramuscular: após a contenção, terá seu peso aferido com a fita barimétrica ou balança, se necessário. A dosagem do medicamento/vacina/pesticida será ajustada na seringa e a agulha especificada será a 20x10 – 25x18 (bezerros com menos de 300 kg de peso vivo) e 30x15 – 40x18 ou maior (animais acima de 300 kg de peso vivo). Será utilizada 1 (uma) agulha por animal, que poderá ser reaproveitada após a sua esterilização. A aplicação acontecerá na tábua do pescoço, posicionando a agulha em 90° em relação ao corpo do animal. Ao ter penetrada a agulha no corpo do animal, o embolo da seringa será levemente puxado para verificar a possibilidade de ter acertado artéria/veia. Caso tenha acertado, a agulha será removida do local e será reposicionada. Caso não tenha acertado artéria/veia, o produto será ejetado. Após a prática, será liberado e recompensado com uma porção de sal mineralizado ou ração concentrada.

c. Via endovenosa: após a contenção, terá seu peso aferido, com a fita barimétrica ou balança, se houver necessidade.  Após a aferição, serão ajustadas as abas laterais do tronco ao corpo do animal.  A dosagem do medicamento será ajustada na seringa e a agulha especificada será de 20x15 - 20x20 (bezerros com menos de 300 kg de peso vivo) ou 30x15 - 40x12 (animais acima de 300 kg de peso vivo). Será utilizada 1 (uma) agulha por animal, que poderá ser reaproveitada após a sua esterilização. A aplicação acontecerá na veia jugular esquerda, tábua do pescoço, posicionando a agulha em 25º em relação ao corpo do animal. Ao ter penetrada a agulha no corpo do animal e acertado o alvo, o sangue será coletado (a agulha deverá ser inserida na veia direcionado-a para a cabeça do animal) ou o produto será aplicado (a agulha deverá ser inserida na veia direcionado-a para a posterior do animal). Na aplicação de soro, será respeitada a vazão de 22 gotas a cada 15 segundos. Poderá utilizar esparadrapo para melhor fixação da agulha na aplicação do produto. Após a prática, será liberado e recompensado com uma porção de sal mineralizado ou ração concentrada.

d. Cutânea tópica (pulverização): após a contenção, o aplicador,  vestido com o EPI , preparará a calda na concentração especificada para o produto. Com o uso de bomba manual costal acoplada com bico tipo leque, iniciará a pulverização do animal. O animal será pulverizado de sua posterior (cauda) para a anterior (cabeça), iniciando a aplicação debaixo para cima, direcionando o jato a 10 cm de distância contra os pelos. Será utilizada de 3 a 5 litros de calda por animal. Após a prática, será liberado e recompensado com uma porção de sal mineralizado ou ração concentrada.

e. Cutânea tópica (Pour on): após a contenção e peso aferido com fita barimétrica ou balança, o aplicador, vestido com o EPI, distribuirá o produto na linha dorso-lombar do animal, podendo ter sua distribuição iniciada desde a cernelha até a inserção da cauda. Após a prática, será liberado e recompensado com uma porção de sal mineralizado ou ração concentrada.

 

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Marcelo Simão da Rosa

Marcelo Simão da Rosa

Técnico em Agropecuária (EAFA - IFES/campus de Alegre), Licenciado em Ciências Agrícolas (UFRuRJ), Mestre em Zootecnia (UNESP/FACAV) e Doutor em Zootecnia (UNESP/FCAV). Professor do IFSULDEMINAS – campus Muzambinho. Marcelo acredita que, para ser feliz na Bovinocultura Leiteira é necessário associar a sua felicidade ao bem-estar de seus animais, assim colherá bons resultados