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10 Mandamentos da saúde dos cascos




10 mandamentos da saúde dos cascos

Texto adaptado do artigo de Flávia Fontes, publicado na Revista Leite Integral

As lesões de casco são muito frequentes em nosso meio, causando grandes prejuízos, pois interferem na reprodução, saúde da glândula mamária e na produção de leite. Elas são multifatoriais, isto é, ocorrem quando vários fatores atuam em conjunto. Estes fatores podem ser divididos em dois grupos.

O primeiro, é composto por aqueles que influenciam a qualidade dos cascos, como a nutrição, conforto, genética e a ocorrência de outras doenças concomitantes. O segundo grupo, se relaciona com os desafios ambientais sofridos pelos cascos, e podemos destacar: condições higiênicas e umidade do ambiente, conservação de trilhas, tipo de piso, tempo de descanso, forma de condução das vacas, distâncias percorridas diariamente, obstáculos presentes nos caminhos, dentre outros.

Vale a pena destacar que, em cada fazenda, faz-se necessário realizar uma leitura dos fatores de risco presentes e da qualidade dos cascos, para implementação de programas de controle.

1. Amarás o sistema locomotor sobre todas as coisas.

 

Um sistema locomotor saudável é essencial para que os animais consigam se locomover, em busca de água e alimentos, e expressar seus comportamentos naturais, especialmente de cio. As manqueiras são consideradas, juntamente com as mastites e problemas reprodutivos, os principais problemas de saúde que acometem os rebanhos leiteiros. Sua incidência nos sistemas intensivos de produção de leite tem chegado a valores extremamente elevados, o que exige medidas eficazes de prevenção e controle, visando evitar prejuízos expressivos. 

2. Não tomarás seu santo pedilúvio em vão.

 

O uso do pedilúvio, de 3 a 5 vezes por semana, durante todo o ano, é essencial no combate das afecções podais, pois controla os processos infecciosos e, muitas vezes, melhora a qualidade dos tecidos córneos. 

Recomenda-se que o pedilúvio seja construído com aproximadamente 80cm de largura, 3m de comprimento e 20cm de profundidade, apresentando uma lâmina de solução de 10 cm. Deve estar localizado, preferencialmente, na saída da sala de ordenha, precedido de um lava-pés. As soluções mais empregadas são o sulfato de cobre a 5%, formol de 3 a 5% ou a combinação das duas soluções. Alguns pesquisadores recomendam também o sulfato de zinco a 10%, que apesar do custo mais elevado, mostra-se bastante eficiente. 

3. Guardarás o período de transição.

 

O período de transição de vacas de leite é marcado por mudanças fisiológicas e pela ocorrência de distúrbios que podem interferir na saúde dos cascos. 

O processo de formação do casco pode ser prejudicado por uma série de fatores, tais como deficiências nutricionais, alterações hormonais e distúrbios digestivos ou infecciosos, que podem resultar em laminite. Essas alterações ocorrem com maior intensidade no período peri-parto. Com isso, o tecido córneo formado nesse período pode ser menos resistente aos fatores adversos, ambientais e de manejo, a que os animais são submetidos no pós-parto, tais como excesso de concentrados, umidade excessiva, acúmulo de matéria orgânica, pisos abrasivos, forças mecânicas decorrentes do próprio processo de locomoção e a ação de agentes infecciosos. Para garantir a saúde dos cascos, faz-se necessário conhecer sua fisiologia, a fisiologia das vacas neste período e entender as inter-relações entre os fatores que interferem com a formação do casco e os desafios ambientais.

4. Honrarás a boa nutrição.

 

A alimentação é um fator de suma importância na prevenção das manqueiras. O balanceamento adequado das dietas, respeitando as exigências nutricionais e a fisiologia ruminal, é essencial para assegurar a saúde geral e dos cascos das vacas leiteiras. 

Alimentação rica em concentrado, especialmente carboidratos não estruturais que, na fermentação ruminal, ocasionam a produção de grandes quantidades de ácidos, é um fator de risco para a ocorrência de acidose ruminal e, consequentemente, das laminites. 

A falta de adaptação às dietas, acarreta pequeno desenvolvimento papilar na parede do rúmen e, consequentemente, reduzida absorção e metabolismo dos AGVs ruminais. Dietas pobres em fibra efetiva também são um fator de risco, já que as fibras são responsáveis por estimular a ruminação e incrementar a produção e ingestão de saliva que, por sua vez, contribui para o tamponamento e manutenção do pH ruminal. Vários minerais participam na síntese, qualidade e preservação do tecido córneo, com destaque para o zinco, cobre, cálcio, selênio e manganês. Entre as vitaminas, destacam-se a A, D, E e a biotina.

5. Não matarás as vacas de acidose.

 

É importante ressaltar que os ganhos genéticos relativos à produção de leite vêm acompanhados de aumento das exigências nutricionais dos animais. Dessa forma, os nutricionistas são obrigados a formular dietas com alta densidade energética que, em geral, causam algum grau de desequilíbrio no ambiente ruminal. 

A acidose ruminal subclínica se caracteriza pela produção e manutenção no rúmen de altas concentrações de ácidos graxos voláteis (AGVs). Com isso, o pH ruminal mantém-se na faixa de 5,0 a 5,5 várias horas por dia, durante períodos prolongados. Quadros de acidose ruminal subclínica são responsáveis por alterações sistêmicas e participam na etiologia das laminites. 

Os sinais mais comuns da acidose subclínica são queda de consumo nos momentos em que o pH ruminal está muito baixo (consumo errático ou em montanha russa), alta variabilidade na produção de leite, fezes inconsistentes, pouca ruminação, e uma depressão geral na aparência da vaca.  

6. Não pecarás contra a biosseguridade.

 

Os agentes infecciosos, causadores de lesões podais, podem ser introduzidos nas propriedades pela compra de animais com doença clínica ou portadores assintomáticos. Um bom exemplo é a dermatite digital, que foi descrita pela primeira vez em 1984, na Itália, e em 20 anos se espalhou para todas as regiões do mundo. 

Em nosso meio, os trabalhos apontam prevalência de 30% para esta enfermidade. O aparo funcional dos cascos das vacas leiteiras é uma rotina de prevenção das enfermidades não infecciosas, objetivando melhor distribuição de peso entre as unhas e retirada de lesões iniciais. Essa prática, porém, tem sido associada com a disseminação de doenças infecciosas dos cascos, especialmente a dermatite digital. O material utilizado no casqueamento, quando sujo e infectado, funciona como transmissor de agentes microbianos entre animais e entre fazendas. Além disso, quando o casqueamento é realizado por pessoas não treinadas, pode ocorrer retirada excessiva de sola, predispondo às lesões traumáticas. Manter um rebanho fechado e com bom nível de higiene é o melhor modo de prevenir a entrada de agentes infecciosos causadores de manqueira.

 

7. Não roubarás no conforto.

 

A vaca deve estar em condição de conforto quando deitada e também em pé e caminhando. A relação entre o tempo que a vaca fica em pé ou deitada influencia diretamente a saúde dos pés.

É desejável que as vacas passem, diariamente, de 9 a 14 horas deitadas, por três razões: para aumentar o tempo de ruminação e, consequentemente, melhorar o tamponamento ruminal; para aumentar o fluxo sanguíneo para a glândula mamária, e para aliviar a carga sobre os pés. Desta forma, deve-se observar se existem locais higiênicos e confortáveis que estimulem a vaca a se deitar e, nos confinamentos, se há camas suficientes e confortáveis para todas os animais. 

O ideal é que cerca de 85% das vacas estejam deitadas uma hora após o oferecimento da alimentação. Quando os animais permanecem muito tempo em pé, parados, o sangue fica estagnado nos pés, reduzindo as trocas gasosas e de nutrientes, podendo comprometer a saúde dos cascos. Esta situação pode ocorrer quando as instalações não são planejadas adequadamente, e as vacas esperam em pé para se alimentar, beber água ou para serem ordenhadas. Por outro lado, o exercício é uma atividade positiva para a saúde dos pés. Quando as vacas se movimentam, há um aumento do fluxo sanguíneo nos pés, trazendo oxigênio e nutrientes e, ao mesmo tempo, retirando dos cascos CO2 e metabólitos. A adequação dos tempos de descanso e de exercício está relacionada com redução da incidência de lesões de sola, especialmente úlceras.

 

8. Não levantarás falso testemunho de que o casqueamento de rotina não é importante.

 

Os bovinos apresentam uma taxa de crescimento dos tecidos córneos dos cascos de, aproximadamente, 5 mm mensais, o que, muitas vezes, leva ao crescimento excessivo, necessitando de aparos para correção dos apoios e restabelecimento de sua morfologia. 

As modificações do apoio podem ser importantes causas de lesões podais, especialmente da linha branca e úlceras de sola. As unhas apresentam taxas diferenciadas de crescimento e desgaste das suas várias partes. Isto leva a distribuições de peso diferentes nos vários locais, predispondo a ocorrência de lesões. 

O principal objetivo do casqueamento é restabelecer a distribuição do peso do animal nas diversas partes das unhas, de maneira uniforme, tanto no animal em estação quanto em locomoção. Sugere-se que se realizem as correções logo após a parição, ao se iniciar a lactação. Os aparos devem ser realizados uma a duas vezes ao ano, dependendo das condições, por pessoa treinada, deixando as lesões para atendimento especializado.

9. Não desejarás a genética do próximo.

 

A conformação genética dos membros posteriores, no que se refere aos aprumos, ângulo de pinça e altura de talão influem decisivamente na distribuição de peso durante a locomoção, reduzindo significativamente os problemas de casco. A pontuação do composto de pernas/pés vem sendo alterada, significativamente, nos últimos anos, o que, a médio prazo, deve trazer benefícios importantes para a saúde dos pés. Para isso, é importante que cada propriedade trace seus próprios objetivos para o programa de melhoramento genético, planejando os acasalamentos corretivos.

 

10. Não cobiçarás os cascos alheios.

 

Um rebanho com cascos saudáveis e baixa incidência de manqueira é um resultado a ser conquistado, com um manejo preventivo, adequado à realidade de cada propriedade. 

É importante desenvolver uma metodologia de avaliação do escore de locomoção e, com isso, uma rotina de diagnóstico dos problemas de casco. Também, é imprescindível que todos os demais pontos aqui discutidos, como nutrição, biosseguridade, genética e conforto estejam sob constante monitoramento. Não adianta invejar os resultados do seu vizinho. Faça a sua parte e Deus te ajudará!

 

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Fundação Roge

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