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Habilidades sociais: qual o papel da escola?




Alunos aprendendo habilidades sociais na escola

Quem conversa sobre vivências da infância  com os nascidos nas décadas de 1960 à 1980 sempre ouve boas estórias das brincadeiras de criança, aquelas que remetem a memórias afetivas muito positivas e repletas de saudosismo. E como TUDO era BOM! Nessa época bastava um grupo de crianças encontrar um elástico, um anel, um barbante ou qualquer sucata que já inventavam uma diversão que durava o dia todo.

Carrinho de rolimã, amarelinha, bete, peteca, futebol de rua, 5 Marias, chicotinho queimado, bolinha de gude, pipa, corre cutia, peão, mãe de rua, etc. A lista de brincadeiras era grande, o dia acabava e ainda sobrava energia e uma porção de atrações que ficava para a próxima jornada lúdica no dia seguinte.

 

Brincando e Aprendendo

 

E o que se aprendia com todas essas brincadeiras de criança? Ah, muita coisa! Sem muito esforço podemos fazer uma lista de habilidades e competências que eram aprendidas em tão tenra idade:

 

Hierarquia – os mais velhos geralmente eram os líderes que comandavam a diversão e distribuíam os papéis para os demais integrantes do time.

Gestão de conflitos – ali mesmo nas rodas de brincadeiras os problemas aconteciam e as soluções e o entendimento mútuo eram encontrados em comum acordo. Se assim não fosse, os pais restringiam os próximos encontros com castigos e penalidades caso o fechamento da situação não fosse uma “negociação amigável” com os amigos.

Criatividade – a falta de recursos muitas vezes era a mola mestra para a criação de brinquedos com “o que se tinha” disponível na mão ou nas sucatas encontradas no quintal de casa.

Tolerância à frustração e empatia – quantas vezes o brinquedo do colega era cobiçado. Mas muitas vezes também, esse mesmo colega, trazia aquele brinquedo raro para ser dividido de forma democrática entre os amigos para que todos pudessem desfrutar daquela “raridade”.

 

Estes são alguns poucos exemplos de competências aprendidas, mas não seria difícil elencar muitas outras que, de forma natural, traziam aos pequenos muitos ensinamentos da vida e da convivência humana. As habilidades sociais eram exaustivamente trabalhadas entre os pequenos de forma natural e espontânea e eram imensuráveis os benefícios desse vasto repertório de experiências para a vida afora. Além disso, quando chegava à escola aquela criança já se encontrava escolarizado” para a convivência com os educadores e colegas: resolução de conflitos, tomada de decisões, respeito às individualidades, tolerância à privação de desejos e tantas  outras competências já tinham sido treinadas. Ficava à cargo da escola, de forma mais intensa, a transmissão dos conhecimentos.

Conforme a pesquisadora Zilda Del Prette “as habilidades sociais constituem fator de proteção para uma trajetória de desenvolvimento satisfatória atuando na prevenção de problemas na infância (desempenho escolar e problemas de comportamento) e seus desdobramentos na vida adulta (depressão, problemas conjugais, realização profissional, etc). Inversamente, um repertório pobre de habilidades sociais pode constituir fator de risco para o rendimento escolar e a socialização, tendo consequências desfavoráveis para o desenvolvimento saudável da criança”.

 

O papel da escola neste novo contexto 

 

Desde sempre, o papel da escola foi a transmissão do saber, a aquisição e a lapidação dos instrumentos de compreensão, raciocínio e execução. Nos dias atuais, a tarefa da escola para a transmissão eficaz dos conhecimentos e construção dos saberes tem sido muitas  vezes dificultada pelo fato de que muitas crianças chegam à escola carentes de habilidades sociais, situação que impacta negativamente sobre o processo de aprendizagem do aluno.

Jacques Jean Delors que, na década de 90, foi presidente da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI da UNESCO foi autor do relatório "Educação, um Tesouro a descobrir". Nesse documento explorou os quatro pilares da educação, a saber

 

1. Aprender a conhecer: adquirir instrumentos da compreensão

2. Aprender a fazer: para poder agir sobre o meio envolvente

3. Aprender a viver juntos: cooperação com os outros em todas as atividades humana

4. Aprender a ser: conceito principal que integra todos os anteriores

 

Atualmente, cabe à escola eficaz o desafio de trabalhar os 4 saberes com os alunos e instrumentalizá-los adequadamente para que possam viver e conviver de maneira adequada e feliz neste mundo complexo, o que nem sempre é tarefa simples. Para isso, a escola também precisa, rotineiramente, capacitar seus educadores e refletir com eles sobre o processo de educação eficiente, que vai além da “escolarização” do aluno, buscando acertos mais constantes e melhoria contínua no nobre processo de formação integral do aluno.  

 

No papel de desenvolver as habilidades sociais dos alunos, trabalhar as relações humanas na escola tem sido um grande desafio no contexto atual da educação.

SAIBA MAIS

 

 

Carmem Lúcia Ferreira Alves

Carmem Lúcia Ferreira Alves

Graduada em Psicologia e em Gestão de Recursos Humanos, com extensão em Docência e com especializações em Gestão de Pessoas, em Orientação Profissional de Adolescentes, em Terapia Comunitária Sistêmica Integrativa, em Gestão Educacional e em Gestão de Empresas Produtoras de Leite pelo Sistema MDA. Apaixonada por Educação, atualmente exerce a função de Gestora Educacional e Diretora da Escola Técnica da FUNDAÇÃO ROGE, e considera que o aprendizado constante é a chave para o sucesso profissional e pessoal.